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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

REFLETINDO

Prepare o abre-alas do seu coração

João Ricardo Correia
Jornalista

        Há uma sensação diferente no ar. Sorrisos se derramam em todas as direções, lavando as mágoas, fazendo esquecer o liseu do meio do mês. Extravagâncias de todas as partes dão o tom do período, quando homem vira mulher e mulher vira homem, sem precisar gastar dinheiro com cirurgia plástica, nem correr o risco de se transformar em lobisomem.

        A hipocrisia fica escondida sob as fantasias. Máscaras encobrem rostos, às vezes, tão mascarados pela falta de caráter, pela cretinice, que só conseguem se misturar aos outros foliões assim. Falta coragem para sair de cara limpa.

        É o ser humano travestido, caricaturado, assumindo um papel, sendo ator, querendo provar a todo mundo, inclusive a ele próprio, que pode parecer feliz, nem que seja por um, dois, três, quatro dias por ano. Depois, tudo vira cinza na quarta-feira e a realidade volta sem piedade, crua.

        A festa mais popular do Brasil deixa iguais os que se dispõem a desviar da verdade, para encarar uma ficção multicolorida, que deixa, mesmo de maneira alegórica, o negro igual ao branco, o pobre igual ao rico. Carnaval é parecido com um tapete de retalhos, quando uma mistura medonha de tons e cores se dão as mãos para cumprir uma missão. Esse festejo grandioso é cheio de detalhes, tal qual um tabuleiro de xadrez, quando peões, reis, rainhas, cavalos, torres precisam se mexer direitinho, caso contrário colocam tudo a perder. Ah, e não podemos esquecer do bispo! Quantos deles não queriam abandonar os postos que assumem em suas religiões para soltar a franga nesses bailes verdes e amarelos!

        A vida é assim: um emaranhado de interesses, desejos, diferenças... O carnaval é muito semelhante aos bons e românticos laboratórios fotográficos, quando os fotógrafos entravam naquele ambiente quase totalmente escuro e dali viam nascer dos filmes seus personagens. Algumas imagens surgidas surpreendiam por suas características. Algumas pela beleza, outras pela feiúra, outras pela expressão facial e muitas, tantas, pelo poder quase mágico de mostrar algo que nem olhar sensível de quem apertou o obturador percebeu. As concentrações carnavalescas também denunciam situações antes inimagináveis.

        Corpos seminus misturam-se aos requebrados inocentes da menininha de quatro anos, já contagiada pelos sotaques tão variados dos instrumentos musicais. Idosos sorriem fechando os olhos, lembrando dos antigos carnavais. Jovens se entregam de corpo por qualquer preço, esquecendo de preservar a alma para o amanhã.

        O carnaval passará, a quarta-feira de cinzas chegará e a vida continua. Muito bom que é assim que sempre vai acontecer. O resultado de quem - ou o quê - você será depois dessa festança é a síntese do seu comportamento. Nada de falso moralismo, de puritanismo imbecil que se rende ao primeiro gole de bebida alcoólica. Mas também não podemos ultrapassar os limites do bom senso, sempre lembrando que não devemos oferecer ao próximo o que não gostaríamos que nos oferecessem.

        Um carnaval de muita paz para todo mundo. E que o seu coração sempre esteja com o abre-alas pronto para recepcionar as pessoas que te amam incondicionalmente, sem exigir fantasias.

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