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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

REFLETINDO

Quem é?
João Ricardo Correia
Jornalista

        Toc, toc, toc... Alguém bate na porta. Ela fica em silêncio. Vem a insistência: toc, toc, toc... Sua resposta continua a mesma, calada, imóvel, inerte diante de quem tenta o contato. Sua atitude é inútil. Toc, toc, toc, toc, toc, toc... Os batidos duplicaram e foram mais intensos. Passam dois, três minutos... Toc, toc, toc... Nada de resposta. A porta continuou fechada. Cinco, dez, vinte minutos, uma hora depois... Não havia mais nada de novo. Ninguém mais queria mostrar-se à mulher. Sozinha, viu-se curiosa, instigada a saber quem estava ali, a sua procura e sequer foi recepcionado. Seria o carteiro, com uma carta do parente distante ou do namorado da adolescência? Ou seria a vizinha, querendo uma xícara de açúcar emprestada? Talvez fosse o cobrador. Ou um mendigo pedindo um pão?

       
O medo de encarar o desconhecido fez aquela mulher ficar pensativa por muitos dias. Dias vividos quase sem companhia naquela pequena casa, com exceção das duas carijós que engordavam no quintal, para virar canja na próxima gripe forte.

       
Passaram-se meses, quem sabe anos, mas a mulher nunca mais foi a mesma. Aqueles batidos na porta nunca foram esquecidos. Ela os levava para a cama, acordava com eles. Viraram íntimos. Tão íntimos que em muitas madrugadas levantava da cama, sentava na cadeira de balanço e sonhava com aquele som... Toc, toc, toc...

       
O tempo passou, a antiga porta já estava toda desbotada, das carijós nem as penas restavam no terreiro, os dias e noites tinham pintados todos os seus cabelos de branco e a mulher continuava ali, querendo saber “quem danado” insistiu tanto para vê-la e ela não atendeu ao chamado.

       
Tem muita gente assim, que se tranca em seu mundo, fica isolada, sem dar chance ao novo, ao desconhecido e termina passando a vida toda ansiosa, curiosa, cheia de dúvidas e esperanças desesperançosas, porque um dia não teve a coragem de abrir a porta da casa, ou do coração. Isso mesmo. Da mesma forma que muitos impedem o desconhecido ter, pelo menos, a visão de como é a sala de estar da sua residência, outros tantos travam o coração e se alimentam para sempre somente dos sentimentos que ali já estavam, muitas vezes velhos, superados, precisando de oxigenação para fazer fluir melhor o sangue pelo corpo.

       
Abra sua vida, sua mente, seu coração. De forma responsável, cuidadosa, precavida, para não permitir invasões indevidas. Selecione as entradas, para que as saídas e permanências não sejam traumatizantes. Quando ouvir um toc, toc te chamando, vá na direção do som, pegue na fechadura, respire fundo e abra. Dê oportunidade para que as oportunidades cheguem até você. A mesma porta pela qual chega a pior notícia da sua vida, pode também dar acesso a uma nova manhã, linda, maravilhosa, depois de uma noite aterrorizante.

       
Chega de medos. A fragilidade humana existe, mas nunca deve ser maior que nossa força para abrir uma simples porta. Toc, toc, toc... “Quem é?”. Vá, pergunte! Já é um bom começo.

2 comentários:

  1. leonya_ufrn@hotmail.com22 de janeiro de 2010 às 11:47

    Toda a equipe que faz esse site acontecer esta verdadeiramente de parabéns! As matérias sao atuais e coerentes com a realidade do povo, as reflexoes são tocantes e fazem o leitor repensar sobre suas posturas como cidadao e como ser humano.
    Leônya!

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  2. luciaeneida@yahoo.com.br23 de janeiro de 2010 às 11:39

    João Ricardo,
    Sempre leio seus textos, mas esse texto "QUEM É?" está maravilhoso. Li,reli, refleti e em alguns momentos me identifiquei com a personagem. Parabéns!

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