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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

ENTREVISTANDO

Major Margarida Brandão é policial militar há vinte anos. Mãe de duas meninas, adora a profissão. Ela coordena o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) no Norte-Nordeste, além de comandar a Companhia Independente de Prevenção ao uso de Drogas (Cipred) no Rio Grande do Norte, a primeira no Brasil a atuar especificamente na problemática das drogas. Ela concedeu entrevista exclusiva à repórter Silvia Correia, do “Criando Pauta”.




Criando Pauta: Como e onde surgiu o Proerd?

Major Margarida Brandão: Surgiu há vinte e quatro anos, nos Estados Unidos, através de Ruth Rich, psicopedagoga, que perdeu o seu filho mais velho, de 12 anos, devido ao envolvimento dele com as drogas. Essa professora montou o projeto Drug Abuse Resistance Education (DARE), com vários profissionais da educação, em Los Angeles. E, através da embaixada americana, vieram vários policiais dos Estados Unidos e da Europa que foram divididos para todo o Brasil. Portanto, o Proerd é uma expansão desse projeto que hoje é realizado em mais de 54 países e abrange todos os estados do território brasileiro.

CP - O que é e como funciona?
MB: É um programa de cunho social preventivo, posto em prática por policias militares que são devidamente selecionados e capacitados. Esses policiais vão às escolas da rede pública e privada e durante o semestre, uma vez por semana e durante uma hora, desenvolvem o conteúdo que está em uma cartilha padronizada nacionalmente. Esse programa acontece durante seis meses e após a sua aplicação vários conteúdos são trabalhados dentro de sala de aula de diversas formas, como: teatro; música; atividades de leitura; redação; a gincana do conhecimento, onde o aluno é avaliado, após a aplicação do programa, para ver se aprenderam realmente o sentido da problemática das drogas. E no final disso tudo, é realizado uma grande festa de formatura para valorizarmos a criança e sua família, levando um pouco da palavra de Deus para que eles compreendam o papel fundamental da família. O programa acontece dessa forma em todo o país.

CP - Quais os objetivos desse trabalho?
MB: O objetivo principal é de orientar as crianças, os adolescentes e as famílias para que entendam o grande mal que as drogas vêm causando hoje na sociedade. E o nosso principal alerta é através da informação. Buscamos mostrar, aos envolvidos nesse programa, as várias alternativas de se valorizar a vida. Mas o principal ponto, na verdade, é levar o aluno, a criança, o adolescente, a entender um pouco mais das suas escolhas, para eles pensarem que tudo eles escolherem haverá uma conseqüência, ensiná-los a refletir. Principalmente a entender o seu papel, qual a contribuição dele diante da sociedade, diante da sua escola, diante da sua família.

CP - Há quanto tempo o Proerd existe aqui no RN e como começou?
MB: No Rio Grande do Norte, o Proerd chegou em 2002 com o programa de capacitação dos profissionais, que durou dois meses, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN). Esse projeto começou como um programa e hoje, tornou-se uma companhia (CIPRED – Companhia Independente de Prevenção ao uso de Drogas). No início, contava com a ajuda de apenas cinco policiais atendendo a cem alunos. Contudo, com o tempo, essa demanda foi crescendo e hoje o programa, além de atender as crianças, atende os adolescentes, os alunos que estão entre o 6º e 7º ano e também, os pais desses alunos. A necessidade da sociedade é tanta hoje que, a partir desse ano, vamos atender a educação infantil. Tudo isso para que a prevenção e a informação cheguem, o quanto antes, na casa das pessoas.

CP - E o que é a Cipred e onde essa Companhia atua?
MB: A Cipred é a primeira companhia no país em que policiais trabalham exclusivamente na prevenção nas escolas. Ela, hoje, atende a vinte e sete municípios e a, aproximadamente, 100 mil alunos aqui no Estado do RN.

CP - E esse trabalho dos policiais é voluntário?
MB: É voluntário, mas têm que ser policial para estar no Proerd.

CP -E quem está à frente desse projeto aqui no RN?
MB: Hoje eu coordeno o Proerd a nível de região Norte-Nordeste, como também aqui no Rio Grande do Norte, sou coordenadora estadual. E como o projeto virou uma companhia, hoje sou a comandante dela.

CP - E o Proerd tem sede própria? Onde que ele funciona?
MB: Nós ainda não temos sede própria. Funcionamos em um anexo, emprestado, do Centro Integrado de Apoio Social Policial. Precisamos realmente de um apoio maior do governo do Estado para a estruturação do programa.

CP - E qual a principal dificuldade que o Proerd enfrenta?
MB: A nossa principal dificuldade é com relação à confecção material didático. É uma quantidade muito grande de alunos atendidos e nós não estamos mais dando conta de tantos pedidos.

CP - E como esse projeto é mantido?
MB: Inicialmente, quem nos ajuda são os pais dos alunos e algumas empresas aqui, como a Nutriday, que tem patrocinado a confecção dos materiais didáticos. E é assim que temos sobrevivido. Mas, por causa dessa grande solicitação e procura, é importante que o governo possa chegar mais junto dando esse respaldo. Os policias da Cipred querem trabalhar, mas necessitam de no mínimo esse material para poderem colocar em prática.

CP - Como é feita a divulgação?
MB: Temos o nosso site: http://www.proerd.rn.gov.br. Inclusive, nesse site, que é uma dos mais acessados do país, temos o site nacional, ou seja, entrando no nosso site as pessoas podem navegar por todos os sites do Proerd nos outros Estados e também de alguns outros países como Estados Unidos, México e Canadá. Temos também alguns programas de rádio, que começa agora a partir de março e tem também o telefone do comando geral: 3232-6330. Qualquer informação que vocês queiram saber é só telefonar que estamos prontos para atendê-los.

CP - E com relação aos eventos, qual o próximo calendário de vocês?
MB: Agora em 2010, o nosso calendário para abril vai ser a semana da prevenção onde várias Secretarias vão trabalhar essa temática da prevenção dentro das suas respectivas áreas. Por exemplo: a Secretaria de Turismo estará trabalhando a prevenção nas escolas. Irão falar sobre a exploração sexual e uma série de fatores; a Secretaria de Esporte estará proporcionando vários campeonatos e gincanas nos bairros e nas escolas; e a próxima, que será a formatura, ocorrerá no dia 19 do mês de junho, no Ginásio Machadinho, e logo após, no Machadão, estaremos realizando uma grande micareta da prevenção – a partir das 9 horas da manhã, com aproximadamente 20 mil alunos atendidos.

CP - Quantos instrutores? Quem são eles? Eles possuem alguma formação técnica?
MB: Temos 75 policiais, entre homens e mulheres. Temos sargentos, cabos, eu como major, temos o capitão Arthur, a grande maioria é de soldados. Temos formação técnica, sim. É um curso muito puxado. Nós, coordenadores, selecionamos os melhores policiais da corporação. O comandante geral, coronel Marcondes Pinheiro, nos dá esse aval para escolhermos quem tem o perfil adequado para essa área da educação. A grande maioria é de pedagogos, quem têm uma larga experiência nas salas de aula.

CP - Como as escolas beneficiadas são selecionadas?
MB: É feito um levantamento nas Secretarias de Educação, tanto a estadual quanto a municipal, e as comunidades que apresentarem uma maior incidência de prostituição, violência, problemas com as drogas em torno das escolas e é através desse mapeamento que o programa entra em ação.

CP - E quantas pessoas já foram beneficiadas?
MB: Mais de 400 mil alunos, desde 2002, já fizeram parte do programa.

CP - Cite um exemplo de alguém que foi resgatado das drogas.
MB: O exemplo mais marcante aconteceu no município de Cruzeta, onde uma aluna, através das aulas do Proerd, ajudou o seu pai a sair da dependência química. O policial Ailton foi quem fez todo o resgate dessa família, encaminhando para psicólogos e assistentes sociais. Já tem quatro anos que isso ocorreu e, graças a Deus, esse pai – que ainda continua em tratamento - está recuperado, com a saúde boa e feliz. Muitos outros casos como esse de Cruzeta continuam a ocorrer. As crianças cobram da família a mudança de postura dentro de casa e essa questão do consumo da bebida alcoólica dentro e fora de casa.

CP - Como a senhora se sente sabendo que a polícia acaba por desempenhar uma função que, talvez, devesse ser de outra instituição?
MB: Hoje, o policial militar além de ser policial tem que ser psicólogo, padre, pastor, assistente social, pai, mãe. Então, eu me sinto feliz por estar colaborando com a sociedade. Na verdade, cada vez mais os profissionais da área de segurança estão preparados para essa “segurança cidadã”, de interação com a comunidade. Antes, faltava muito esse diálogo e abertura entre a polícia e a população, mas hoje temos a sociedade como uma parceira, esse é o nosso grande diferencial. Contudo, ainda existem policias que insistem em ter na cabeça a questão da repressão. Claro, que nos momentos necessários, a repressão tem que estar em ação, mas não precisa ser realizada o tempo inteiro. A sociedade deve respeitar os profissionais e os profissionais respeitarem a sociedade.

CP - Um alerta aos familiares sobre o perigo das drogas para os jovens.
MB: Um alerta que deixo para os pais e as mães é que o traficante não é aquela pessoa do mal, feia, suja, mal vestida. O traficante está perto de vocês e de seus filhos. Ele utiliza diversas ferramentas para entrar na sua casa e você nem perceber. Portanto, é obrigação dos pais procurarem saber com que seus filhos andam e conversam; o que assistem ou acessam na internet. Isso é muito importante. Sem falar, que devem também procurar saber a vida dos filhos na escola, no esporte. Eles necessitam desse apoio, especialmente na fase da adolescência.

CP - Quais suas considerações finais?
MB: Queria deixar aqui o meu alerta e agradecimento a toda a imprensa, porque vocês são formadores de opinião e também contribuem nessa luta de prevenção. A quantidade de vidas e famílias que vocês já resgataram é imensa. Queremos deixar aqui nosso agradecimento a toda imprensa que tem esse cuidado em estar divulgando informações e conscientizado as pessoas e que colabora com as pessoas e instituições que também partilham desse objetivo de ajudar ao próximo. Portanto, esse é o nosso agradecimento, não só da Polícia Militar e dos profissionais que trabalham no Proerd, mas de todos os profissionais do Rio Grande do Norte. Continuem nos ajudando a divulgar informação da prevenção, porque vocês entram nos lares e famílias e acabam fortalecendo o nosso trabalho.

Saiba mais:
www.proerd.rn.gov.br

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