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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

ENTREVISTANDO

Circo Grock: uma fábrica de talentos

        Senhoras e senhores, bem vindos ao maravilhoso mundo cor circo! No "espetáculo" de hoje, a repórter Silvia Correia conta um pouco da história do famoso palhaço Espaguete, na entrevista com Jonilson José de Moura, o Nil Moura, responsável pelo Circo Grock. Nil, que também atende pelo nome de Palhaço Espaguete, tem 41 anos e se formou em 1990, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) no curso de teatro. Ele tem também especialização na arte do circo pela National Circus Theater, faculdade suíça localizada na cidade de Maltre.

        Dezesseis anos atrás, um grupo de jovens potiguares – apaixonados pela magia circense – resolveu encontrar algum curso com formação nas artes do circo. Como Natal não poderia ajudá-los a realizar esse sonho, decidiram viajar para a Europa. Lá, se especializaram pela National Circus Theater e trabalharam durante 11 anos. Apesar de todo esse período fora do Brasil, eles sempre retornavam - nas suas férias de três meses - para as raízes e se apresentavam Brasil afora.

        No ano 2000, em uma de suas passagens pela terra natal, os jovens artistas começaram com a ideia da criação de uma escola circense com o teatro Caramelada, que eram oficinas permanentes da arte do circo no Museu Câmara Cascudo. Então, em 2005, eles retornaram da Europa para a capital potiguar e criaram a primeira escola de circo do Rio Grande do Norte. Juntaram os seus cachês para comprar os materiais e equipamentos necessários e começaram as primeiras apresentações do Circo Grock pelo estado para arrecadar mais dinheiro. Era o primeiro passo para a criação da ONG Escola Potiguar de Artes do Circo.

        O grupo teve o apoio da Capitania das Artes, que repassou o material para a concretização do circo. Em 2008 e 2009, se inscreveram no edital de Ponto de Cultura do RN. A estreia aconteceu no largo do Machadão, onde permaneceu por um tempo e dali foi se mudando para outros pontos da cidade, como conjunto Mirassol e Candelária. Hoje, o Grock encontra-se na avenida Omar O'grady (prolongamento da Prudente de Morais), no Pitimbu, próximo ao Parque da Cidade, e é muito mais que uma associação sem fins lucrativos de formação profissional, mas uma entidade que desempenha um papel social.

        Com vocês, a entrevista de Nil Moura:

Criando Pauta – O que é o Circo Grock/ Escola Potiguar de Circo (Epac) e qual o objetivo de vocês?
Nil Moura: É um projeto auto-sustentável, uma ONG, onde nós - artistas especializados nas artes circenses - lecionamos para crianças, adolescentes e universitários com o objetivo de formar profissionais aptos para as artes do circo, aprimorar os circos já existentes e multiplicar o número de profissionais do ramo do circo e resgatar os circos de antigamente sem a pornografia. Só que com tudo isso acabamos por desenvolver um projeto de cunho social.

CP - Quem foram os fundadores? A equipe atual é composta por quantos membros?
NM: Eu e Gena Leão. Depois se associaram Eugênio Patchelli e Ana Cecília. E o restante da equipe é composto por ex-alunos que se tornaram professores.

CP - Por que o trabalho de vocês pode ser considerado de cunho social?
NM: Porque o nosso espaço não só serve para espetáculos circenses, mas também funciona como escola, trabalhando a princípio com crianças e adolescentes com idades entre 10 e 18 anos que estejam matriculados no ensino público da capital. A ideia é ocupar o horário vago do estudante. O fascínio que tentamos passar para os alunos acaba por encantá-los e ajudá-los a sair da marginalidade e/ou a não se desviarem do bom caminho. Buscamos os fazer enxergar o potencial que possuem e com isso, cumprimos um papel social.

CP - O circo sobrevive de quê? Tem patrocínio? Governo e prefeitura ajudam?
NM: Agora contamos com a ajuda do Ministério da Cultura. Esse capital vem do governo que contribui com 20% no projeto Cultura Viva através da Fundação José Augusto. A função dessa fundação é exatamente essa: repassar os recursos para os Pontos de Cultura.

CP - Qual a origem do nome Grock?
NM: Escolhemos esse nome Grock, porque queríamos colocar o nome de algum palhaço brasileiro reconhecido, mas como todos os palhaços mais reconhecidos já possuíam os seus nomes em circo e optamos por colocar Grock, que é o nome do palhaço rei no mundo inteiro. Grock ficou famoso pelo fato de saber realizar a perfeita fusão da interpretação do palco dentro do picadeiro.

CP - O circo Grock se apresenta também fora do Rio Grande do Norte?
NM: Ainda não, a atuação ainda é só dentro de Natal. Mas pretendemos, no futuro, nos apresentarmos por outras cidades do Nordeste.

CP - Qual o perfil do público que vem ao Circo Grock?
NM: O perfil é muito variado. No começo, tivemos uma classe média alta, pois estávamos localizados ao lado do Machadão e o preço também era um pouco elevado por isso. Contudo, hoje, o nosso espetáculo atinge um número expressivo de pessoas de quase todas as classes. Muita gente conhece nosso trabalho.

CP – Como é feita a divulgação do Circo Grock e da Epac?
NM: A divulgação é feita diretamente nas escolas e empresas. Fazemos muito mais espetáculos fechados que para o grande público. Só abrimos para esse “grande público” nos sábados e domingos às 17 horas. Abrimos esse espaço exatamente para haver uma democracia, para que as pessoas da comunidade em que nos encontramos possam usufruir do nosso trabalho.

CP - O espaço do circo é alugado para outros tipos eventos?
NM: Sim. Você tem o aniversário do seu filho e não quer realizar em buffet, compra-se o espetáculo e oferece para toda a família e amigos do seu filho.

CP - O espetáculo é composto por quais números?
NM: As modalidades oferecidas no curso são as de trapézio, pêndulos espaciais, equilíbrio em corda bamba, malabares, arte da mímica e interpretação para palhaços.

CP – Para ser aluno da Epac, o que é preciso fazer?
NM: Basta se inscrever. Nós temos 50 vagas sendo que 30 são destinadas às crianças e adolescentes com idades entre 10 e 18 anos que estejam matriculados no ensino público da capital.

CP - Como fazer para entrar em contato com vocês?
NM: Podem entrar em contato com a gente através dos números: 8817-2630 e pelo 9128-9676 e o 9126-1160. Como outros recursos de comunicação nós temos o Twitter e o Orkut. Contudo, de vez em quando temos um déficit no departamento de comunicação do circo. Mas agora estamos com uma equipe boa e voltamos à ativa nesse setor.

CP – Como o senhor vê as atividades artísticas no Estado? Elas são apoiadas pelo governo? O que falta para os artistas da terra potiguar terem um maior reconhecimento nos outros estados do Brasil e outros países?
NM: Nós temos um déficit muito grande por parte dos gestores, por não entenderem a importância da produção artística na sociedade. Existe ainda uma falta de entrosamento da gestão pública com a gestão artística, com aqueles que fazem a arte acontecer. Existe o recurso, mas falta ainda o entendimento do poder público com a arte e é isso que faz com que a nossa cultura e nossos artistas não se desenvolvam. Contudo, os artistas precisam também saber se organizar, principalmente os de circo. Nós, artistas circenses, começamos a nos organizar no RN agora. Estamos em um momento histórico no Estado, pois estamos a criar fóruns, a discutir questões, a criar assembleias e representatividade por todo o país.

CP – Quando que começou a seu interesse pelo circo?
NM: Meu pai foi funcionário da Câmara dos Vereadores e ganhava muitos ingressos para os espetáculos por causa disso. Então, eu cresci indo muito aos circos. Sempre notei também a minha aptidão para a comicidade e sempre fui extrovertido isso fez que escolhesse o teatro como curso. No teatro, para interpretarmos uma personagem precisamos estudá-la, criar todo um laboratório e as primeiras personagens que interpretei foram os palhaços de circo. Então, comecei a estudar com esses palhaços o que era um palhaço de circo e fui me apaixonando. Só que não somente pelo picadeiro, mas por todo o universo do circo: dos números dos espetáculos à construção da lona do espetáculo.

CP - Como é viver num circo?
NM – É preciso se ter uma paixão muito grande para se viver no circo, as instalações são simples. Contudo, viver no circo é maravilhoso, porque você passa a ter uma visão melhor da realidade. Aprendemos que tudo aquilo que nos apegamos não têm muita importância. Qualquer coisa que nos apegamos ou acumulamos é passageira, mas o que vivemos e fazemos para os outros é o que fica.

CP – Para o senhor, o que é circo?
NM: O circo é uma magia que é feita para explodir na paisagem, gerar toda uma história, criar uma comunicação e passar uma mensagem. O circo tem isso: nasce, morre e renasce a cada novo espetáculo.

CP - O que o senhor acha de circos que utilizam animais em seus números?
NM: Eu discordo da postura desses circos. Ainda bem que essa é uma situação que vem diminuindo. As pessoas já vêem a preservação ambiental como algo de grande relevância. Eu sou a favor dos circos com mais artistas que animais, apesar de não ver problema em números com animais domesticáveis.

CP - Recentemente, o circo foi retirado de Candelária, pela prefeitura. Na época, foi criada uma polêmica. Fale um pouco sobre isso e como vocês conseguiram este espaço, no Pitimbu. Vocês irão se fixar permanentemente nesse novo espaço?
NM: Nós fomos instalados pela gestão anterior da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur) em uma área verde no bairro da Candelária. Apesar, de ainda não ser de conhecimento de ninguém que essa era uma área verde, fomos forçados a desocupar o espaço devido a denúncias de moradores juntamente com ao poder público. Contudo, por reconhecer o nosso trabalho e saberem que somos um ponto de cultura do RN, a Semsur forneceu um mapa de Natal para a direção do circo escolher um novo local para se fixar. A escolha recaiu sobre um terreno abandonado aqui, em Cidade Satélite. Quanto a nossa permanência, cabe a cada poder público reconhecer que é o dever deles apoiar projetos como o nosso e a gente paga por esse espaço. Então, é um direito nosso utilizar esse espaço público, é tudo legal e documentado. A única coisa positiva disso tudo foi que, agora, as pessoas acordaram e começam a olhar para o segmento artístico do circo, que não é só festa, é um espaço escolar, de aprendizagem.

CP – E os planos para o futuro?
NM: Os nossos planos é que consigamos ampliar diversos setores da escola inteira. Queremos trazer o filho para a escola, mas também o pai desse aluno para que possamos ampliar o nosso papel social. Mas somos apenas um ponto de cultura, um ponto na paisagem. É preciso muitos mais pontos como esse para que haja uma melhor e maior comunicação.

Nil Moura, fundador do Circo Grock

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