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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

REFLETINDO

Terremotos do coração


João Ricardo Correia
Jornalista

        Os terremotos não me saem da cabeça. Todo aquele processo destrutivo, transformando cidades e vidas num enorme emaranhado de desespero, tem o poder de fixar em minha mente e fazer com que minha limitada capacidade de interpretar os fatos aflore. E entre o passar de um avião e outro, observado de longe por uma estrela minúscula de brilho gigantesco, atrevo-me a comparar essa reação do universo com o conflito entre dois corações.

       
Os estudiosos dos departamentos de sismologia do mundo inteiro explicam, incessantemente, que esses abalos são provocados por atritos entre rochas. De tão rígidas e teimosas, elas quando se encontram fazem a terra tremer. Não pensam, uma não cede espaço pra outra, não chegam a um acordo e se enfrentam. São dois ou mais corpos duros se mexendo, indo a um lugar comum, mas sem afinidade, sem vontade um de acolher o outro. Como seres inanimados, essas criaturas que vivem sob nossos pés não podem imaginar as consequências dos atos que praticam.

       
Corações embrutecidos fazem o mesmo. Cada um se fecha em seu mundo, com suas razões, seus preconceitos, seus egoísmos, não permitindo o aconchego, o afago, o carinho, o perdão, o amor. Corpos que transportam corações endurecidos ficam sobrecarregados, sofridos, magoados, cheios de traumas e ódios; envelhecem mais cedo.

       
Terremotos matam milhares instantaneamente. Corações começam matando dois, que ficam tão contaminados com os sentimentos mesquinhos que, às vezes até sem perceber, disseminam a morte por onde passam, mesmo que de maneira lenta, gradual, sem merecer destaque nos noticiários da televisão ou chamadas na primeira página do jornal.

       
Baixar a guarda para permitir que o outro se aproxime e, pelo menos, tenha a chance de expressar seus sentimentos é uma prática louvável. Não significa que saiamos por aí, acolhendo tudo e todos. Significa amolecer um pouco o concreto que machuca o peito, que solidifica o sangue, que congela a alma.

       
As placas subterrâneas continuarão, acredito que infinitamente, espalhando o terror mundo afora. Elas estão escondidas, pouco se sabe sobre elas. Nem quando irão se encontrar para uma nova batalha é possível prever. Nós corremos o mesmo risco, caso não comecemos a perceber que, diferentemente das pedras, recebemos desde que nascemos o livre arbítrio para caminharmos para onde bem entendemos.

       
Os terremotos estão aí para que os homens tenham a chance de aprender um pouco sobre os fenômenos da natureza. Os corações estão aí para que os homens aprendam a utilizá-lo. Um órgão tão importante, que bombeia o sangue pelo nosso corpo e nos faz viver, não pode ser tratado como um objeto sem vida, que vive enterrado e se revolta quando existe a aproximação de um semelhante.

      
Seja feliz. Deixe seu coração em paz. Permita sua cumplicidade com o outro, de forma a construir uma enorme corrente por um amanhã melhor, onde possamos tremer somente de emoção a cada bom momento vivido.

Um comentário:

  1. João Vianey de Farias31 de janeiro de 2010 às 23:03

    Mestre João Ricardo,

    Seus textos, a exemplo desse, são geniais!

    Estou repassando o endereço do seu blog para a minha filha - Vivyanne, que é psicóloga e gosta muito de escrever. Certamente ela participará desse espaço que você,gentilmente, está oferecendo.

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